Bioconcreto ou concreto biológico consiste em uma mistura de cimento com bactérias anaeróbicas facultativas. Essa mistura garante a formação de um concreto vivo, com capacidade de autorregeneração para fissuras de até 8 mm de largura.

Você certamente já teve preocupações estéticas olhando para uma rachadura… Afinal, como que não podemos perceber uma imperfeição no meio de uma perfeição?

Bioconcreto: Saiba mais sobre suas propriedades

Do que é feito o bioconcreto

O bioconcreto é feito a partir de um processo oriundo de uma bactéria anareóbica facultativa (que sobrevive na presença/falta de oxigênio) chamada Bacillus pseudofirmus.

Quem inventou

Henk Jonkers (microbiologista) e Eric Schalange (engenheiro especializado em materiais de construção), descobriram essa poderosa combinação.

Essa descoberta aconteceu na Holanda, na Universidade de Tecnologia de Delft, premiando Henk Jonkers com o título de melhor europeu inventor no ano de 2015.

Funcionamento do bioconcreto

A cultura de bactérias é adicionada ao cimento em formatos de micro cápsulas biodegradáveis que limitam o movimento desses microrganismos e suprimem-nos em forma de esporos;

Essas cápsulas biodegradáveis contêm lactato de cálcio, um reagente que se transformará em calcário através da ação das bactérias ativas pela presença de água nas infiltrações.

Essa bactéria é conhecida por habitar superfícies de vulcões ativos e possui algumas características curiosas como:

  • Termo resistência (resistência não só ao calor nesse caso, como também ao frio);
  • Resistência química ao pH básico do cimento.

A Bacillus pseudofirmus fica em uma forma inativa depois que o concreto se solidifica e pode permanecer nessa forma por até 200 anos. Mas o que acontece depois?

Depois da estabilização do concreto as bactérias farão parte da estrutura como se nem estivessem no local. Até o momento em que surge uma rachadura na estrutura.

Se essa rachadura for de até 8 mm de espessura, ocorre um processo de regeneração nesse concreto.

Atuação do bioconcreto em rachaduras – fonte: Stewart (2015)

As bactérias dentro da estrutura começam a sintetizar CaCO3 (carbonato de cálcio) quando as rachaduras começam a sofrer as famosas infiltrações.

Ou seja, a colônia de bactérias que estava inativa no concreto acaba ativando com a presença de água no meio, causando reações para a correção dessa rachadura.

Alguns detalhes adicionais

É importante afirmar que não existe limite da extensão para a regeneração do concreto.

Desde que as rachaduras não ultrapassem o limite de espessura, sua regeneração pode ser infinita.

Leva em torno de 3 semanas para essas sucessivas reações terminarem e a falha se corrigir. Com isso o bioconcreto se torna muito viável financeiramente.

Obras já realizadas que tiveram milhões de reais investidos necessitam de milhões de reais a mais em manutenção, depois de alguns anos.

Essa alternativa além de ser ecológica, possui alto rendimento econômico.

O fato mais curioso é que o concreto agirá como um protetor da bactéria, garantindo que ela fique inativa até seus serviços serem solicitados.

Como é muito difícil uma estrutura feita de concreto não possuir sequer uma rachadura em um período de 200 anos, a bactéria sempre se ativará.

Essa ativação será reincidente, fazendo bactérias ativas gerarem mais esporos quando se inativarem.

As bactérias ativadas transformam-se em novas bactérias inativas após as 3 semanas de reações.

Todas as informações citadas acima tornam o bioconcreto um produto com uma durabilidade sem precedentes.

Atualmente também ele é produzido em forma de spray, para aplicação em rachaduras externas de construções, tendo o mesmo efeito.

O bioconcreto possui em média um preço 40% maior que o concreto tradicional. Entretanto ele ainda é viável, por possuir teoricamente um investimento único, dispensando gastos com reparos futuros.

Esse tipo de material é muito consumido na Europa, devido ao número de estruturas antigas nos seus países.

Com a característica de autorregeneração, o bioconcreto auxiliará essas obras antigas a permanecerem de pé sem intempéries.

Tal demanda ainda não é tão necessária no Brasil, devido às construções brasileiras apresentarem certa juventude em comparação com as europeias.

Porém é provável que nos próximos anos as construções brasileiras comecem a criar uma demanda para este tipo de material.

Mais curiosidades

Uma outra aplicabilidade para este material seria justamente em estruturas com rachaduras em regiões com tremores de terra leves.

Apesar de todas essas características, o bioconcreto ainda terá que agradar o mercado, tanto nas características como em custo-benefício.

Se o material não for agradável em seu preço e em suprir as demandas do mercado, pode acabar caindo em esquecimento.

Sabendo-se também que de acordo com o BNDES, em 2012 aproximadamente 30% das emissões de dióxido de carbono no Brasil foram por causa do processo de fabricação do Cimento.

Leia também: O que é Cimento Portland? Entenda sua produção, surgimento e tipos

Com a implementação de um material sustentável e com alto rendimento, as emissões poderiam reduzir.

O uso deste material nos projetos diminuiria significativamente a quantidade de cimento a ser produzida.

A economia do bioconcreto

De acordo com o The Guardian, em 2017 o metro cúbico de concreto tradicional custava U$ 80 (na época R$ 260).

Enquanto ao da nova ferramenta, o metro cúbico sairia a aproximadamente U$ 110, passando de R$ 360 na época.

É evidente que esse tipo de estrutura possui um potencial de viabilidade, justamente pelo fato de poder se regenerar e evitar novos gastos de manutenção.

Ao longo do tempo o preço de novidades no mercado tende a cair. Será que no Brasil o custo será viável para realizar obras ou valerá mais a pena uma reforma constante na estrutura?

Quais seriam as alternativas possíveis para adquirir bioconcreto? Teríamos distribuidores nacionais ou seria necessário importar?

Quanto vale reduzir as emissões de gás carbônico na atmosfera sabendo que a fabricação de cimento é uma das principais fontes de gases estufa no Brasil?

Quanto as empreiteiras terão que pagar por essa ferramenta? E se precisassem importar, inviabilizaria a obra?

Qual o preço a se pagar por um produto feito de organismos vivos? A bioengenharia é viável? A conta fechará?

Todas essas perguntas ficarão em aberto até que o mercado no nosso país para esse material se concretize (literalmente).

Construções sustentáveis

Casas ecológicas: prováveis aplicações do bioconcreto

Um fator a ser considerado nessa empreitada é justamente as combinações de materiais ecológicos.

Imagina uma construção feita de bioconcreto, tijolos ecológicos, energia eólica e iluminação LED.

Leia mais sobre tijolos ecológicos neste artigo sobre alvenaria

Imagine mais um pouco… Aquecimento de água através da energia de painéis solares e um sistema de captação de água da chuva, compostagem, horta orgânica e tratamento de água natural.

Você não pagaria contas de luz, de água e não faria nenhum mal para a natureza. Na verdade, estaria em completa harmonia com ela.

Poderia ser uma ótima ideia para uma construção de uma casa ecológica, onde não seria necessário reformas, ao mesmo tempo que você teria total rendimento de recursos naturais.

E para melhorar ainda mais, por que não adicionar um sistema de inteligência artificial onde você poderá controlar os níveis de luz, áudio e ambiente local?

Poderia também ter controle da umidade, temperatura e receber recomendações de alimentos exclusivos pela sua geladeira, integrando com seu aplicativo de exercício físico e bem-estar.

Não parece um sonho distante, né? Na verdade, já é bem possível com a tecnologia que possuímos. Hoje você pode ter acesso até aos dados do seu sono…

A pergunta do futuro será: Está disposto a ser aliado da natureza ou inimigo dela? Cabe a você escolher.

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